segunda-feira, 11 de maio de 2015


Kafka  e as suas “Metamorfoses”.




No  seu livro, “A Metamorfose” Franz Kafka expõe o que seria o seu “eu” em relação a sua vida real. Neste best seller, nosso autor trabalha várias ideias como o ódio, o desprezo, o rancor, o autoritarismo paternal, o incesto, (forte influência freudiana no livro) e com todos esses ingredientes faz com que nós sinta-nos um pouco dessa “exclusão” que Gregor Samsa passa, justamente com a sua família. À primeira vista,  Samsa é um rapaz comprometido com o trabalho, entretanto, numa manhã, ele se dá conta de que  “metamorfoseou-se” e que seria praticamente irreversível voltar ao seu estado natural. Quando sua família percebe que Gregor já não é mais “humano” passa a encará-lo como um animal asqueroso e com isso, o desprezo e a exclusão da própria família (principalmente pelo pai) recaem por cima de Gregor.

Como Gregor está nessa situação animalesca, a família fica desesperada já que o filho mais velho se transformou em um inseto anormal e que agora viveria para sempre trancafiado em seu próprio mundo (seu quarto) onde a maior parte da estória se passa. Kafka também expõe as crises que essa família passaria economicamente, já que Samsa trabalhava e ajudava nos custos da casa os pais teriam que se “desdobrar” mais ainda para poder manter uma vida social relativamente melhor. Com a transformação, a irmã mais nova passa também a ajudar e até encontrou um emprego, contrariando a vontade de Gregor, já que ele queria que ela seguisse carreira de música. Gregor passa a ser isolado e reprimido pelo próprio pai, a mãe desesperada, já não tinha ideia do que fazer, e a irmã mais nova, ainda o acolhia (com receio) tentando, em vão, alimentá-lo. O problema e desconforto gerado pelo protagonista para a família se resolvem quando o inseto morre. A partir de uma abordagem sociológica, a sensação de alívio da família com a morte de Samsa faz questionar sobre como os interesses pautam a convivência. Como o peso carregado pelo pai, a mãe e a irmã mais nova, que
dependiam do dinheiro de Samsa para o próprio sustento, só acabam com o fim do inseto, cria-se a impressão de que ele só era bem visto quando garantia um retorno prático, quando não estava impossibilitado de trabalhar e repassava a própria remuneração a eles. No momento que não pode mais produzir renda, você se torna praticamente um inválido dentro de sua casa e com isso criando conflitos. Lembremos que o livro é escrito no inicio da década de 10, a Europa está se desenvolvendo com muita rapidez na área da indústria e de armamentos, ao mesmo tempo está sendo dividida para uma guerra mundial (1914-1918) e é claro que todos esses fatores, principalmente econômicos, influencia de uma maneira abrangente o mundo em que Kafka vivia e acabou contribuindo para sua obra.

Eu, como um leitor iniciante nas obras de Franz Kafka, recomendo com todo valor e gosto esse livro, para quem quiser conhecer este grande autor. Que pôde expor suas ideias de uma maneira melancólica, mas verdadeira sobre o seu mundo. O triste é perceber o quanto a impotência de Samsa perante ações que antes lhe eram rotineiras como sair da cama ou caminhar, faz uma alusão às fraquezas humanas diante de pressões sociais. Denuncia como a sociedade restringe o valor do ser humano ao que produz e às aparências.


KAFKA, Franz. A Metamorfose. São Paulo. Editora: L&PM 2006.