terça-feira, 29 de abril de 2014

Filme "Rastros de Ódio" (1956) de John Ford. Um clássico do gênero Western. Breve observação.


O Faroeste ou Farwest é um gênero cinematográfico que sempre optou por dualismos objetivando diferenciar a civilização e a selvageria através de modelos que cumprem funções bem estabelecidas no projeto civilizatório norte-americano. “Rastros de Ódio”, filme de John Ford de 1956, restabelece a tradição do faroeste revertendo esses princípios e consolida espaços simbólicos diferenciais a partir de motivos abstratos como o conflito, a fuga e a busca. Nessa nova configuração, o que se pensa dominante na verdade é dominado por um discurso velado.. Índios, cowboys, mestiços, mexicanos, se envolvem em instâncias em que, pensando estar cultivando um determinado discurso, na verdade projetam a fala do outro. Este ventriloquismo étnico é o que desloca as verdadeiras fronteiras simbólicas com que esses personagens se deparam, exibindo uma América que se identifica pela negatividade.

Enredo do filme:

Texas, 1868. Três anos após a “Guerra de Secessão”, a família de rancheiros divide suas experiências com seus vizinhos. Vivem a típica adaptatividade dos pioneiros, em uma terra seca e distante, com seus costumes cristãos de acordo com as possibilidades do território. Eis que um agente aparece, andando a cavalo. É Ethan Edwards, irmão de Aaron, patriarca que o recebe carinhosamente. Ethan lutou junto com confederados na guerra civil. Derrotado, desapareceu e andou vagando por três anos. Não se sabe qual foi seu paradeiro. Traz consigo ouro novo – dinheiro incerto que pode ter sido roubado de um banco – e muitas incógnitas. Suas maneiras são embrutecidas, rudes, agressivas. É um Cowboy, mas não um herói. Sua presença traz preocupação à casa. Seu afeto pelas crianças da família não impede que se instaure um clima de tensão, distorção, causando um certo desconforto entre os personagens envolvidos na trama.

“Rastros de Ódio”,esboça uma linha de história cultural que vai além dos simples referentes de identidade e diferença. Sua perquirição é por um tipo de modelo que ignore o passado (dissolvido na não-história do subalterno, que sempre foge) e busque no presente as características dos discursos que vão se substituindo de acordo com os valores diferenciais e vão ganhando nitidez. Provavelmente seja essa, a única representação possível para o norte-americano: o “descascar” de seu discurso hegemônico através das cicatrizes de sua ostentação, de seus entre-lugares existenciais, de suas localizações perdidas. Buscar os Estados Unidos através do que não existe mais, do que não pode mais ser contado, do que não tem voz, mas se manifesta como espectro (tal qual os espectros que Ethan deseja ver andando na terra) que sombreia – e conduz – ainda, as semânticas culturais. Ethan é a nação norte-americana buscando sua real-identidade com o Mundo. É um filme clássico onde lutas, discussões e intrigas estão à todo momento mostrando como os americanos colocam a "figura" antropológica do indígena nas suas telas de Hollywood e do mundo inteiro.

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